Surdez

 

SURDEZ
 

A audição é o sentido que mais nos coloca dentro do mundo e a comunicação humana é um bem de valor inestimável. Costuma-se não perceber a importância da audição em nossas vidas a não ser quando começa a faltar a nós próprios.
A surdez, por ser um defeito invisível, não recebe da sociedade a mesma atenção que é dada a portadores de outras deficiências. O deficiente auditivo tende a se separar de outras pessoas, trazendo para si as consequências do isolamento. A dificuldade maior ou menor que ele tem para ouvir e se comunicar depende do grau de surdez, que pode ser leve, moderada, severa e profunda.
 

Graus de surdez: Como se ouve?
 

Nas perdas auditivas de grau leve os pacientes costumam dizer que ouvem bem, mas, às vezes, não entendem o que certas pessoas falam. Para haver uma boa comunicação temos que ouvir e entender. Não basta somente ouvir. Um teste de audição (audiometria) vai revelar se há, de fato, alguma deficiência auditiva. Nas perdas auditivas de grau moderado para severo, os sons podem ficar distorcidos, e na conversação as palavras se tornam abafadas e mais difíceis para entender, principalmente quando as pessoas estão conversando em locais com ruído ambiental ou salas onde existe eco. O som da campainha e do telefone tornam-se difíceis de serem ouvidos; o deficiente auditivo pede a todo momento que falem mais alto ou que repitam as palavras.

Nas perdas auditivas profundas existe apenas um resíduo de audição. O deficiente ouve apenas sons intensos ou percebe somente vibrações.
Crianças com problemas de audição terão dificuldades no desenvolvimento da linguagem. Se a criança estiver ouvindo mal, o aprendizado na escola será mais difícil.

Como o ouvido é dividido
 

  • – Ouvido externo: pavilhão auricular, conduto auditivo e tímpano.
  • – Ouvido médio: os 3 ossinhos (martelo, bigorna , estribo), abertura da tuba auditiva. A função da tuba auditiva é manter o arejamento da cavidade do ouvido médio.
  • – Ouvido interno ou labirinto, é formado pela cóclea (audição) e aparelho vestibular (equilíbrio).

 
 
 

 

Ouvido

 
 
 

O ouvido é dividido em três partes: externo, médio e interno. O ouvido externo é formado pelo pavilhão auricular e canal auditivo com a membrana timpânica no fundo do canal. No ouvido médio estão os três ossículos (martelo, bigorna, estribo) e a abertura da tuba auditiva. O ouvido interno também chamado de labirinto é formado pelo aparelho vestibular (equilíbrio) e cóclea (audição). O som chega ao cérebro através do nervo coclear.
 

Tipos de surdez

  • – Condução
  • – Percepção
  • – Mista

 

A perda auditiva pode ser de condução quando existe um bloqueio no mecanismo que conduz o som desde o canal auditivo até o estribo.

Algumas causas importantes de surdez de condução:

  • – Acúmulo de cera no canal do ouvido.
  • – Perfuração no tímpano.
  • – Infecção no ouvido médio.
  • – Lesão ou fixação dos pequenos ossinhos (martelo, bigorna, estribo).

 

A surdez de percepção ou sensorioneural (lesão de células sensoriais e nervosas) é aquela provocada por problema no mecanismo de percepção do som desde o ouvido interno (cóclea) até o cérebro. Algumas causas importantes de surdez de percepção ou sensorioneural:

  • * Ruído intenso é causa frequente de surdez. Intensidades de som acima de 80 decibéis podem causar perdas auditivas induzidas pelo ruído (PAIR). As lesões no
    ouvido interno podem ocorrer após uma exposição simples ao ruído ou após exposições prolongadas de meses ou anos. Exemplos de ruídos mais comuns causadores de surdez: máquinas industriais, armas de fogo, motocicletas, máquinas de cortar grama, música em volume alto, estouro de foguetes.
  • * Infecções bacterianas e virais, especialmente rubéola, caxumba e meningite.
  • * Certos medicamentos como alguns antibióticos, ácido acetilsalicílico e outros.
  • * Idade. A perda auditiva gradual devido ao fator idade, denominada presbiacusia, é uma ocorrência quase habitual nos idosos. A deficiência auditiva abrange cerca de 30 por cento nas pessoas acima de 65 anos e 50 por cento acima de 75. A presbiacusia é a causa mais comum de surdez e provavelmente resulta de uma combinação de vulnerabilidade genética, doenças e/ou distúrbios metabólicos ( diabete, por exemplo) e exposição a ruídos. É um processo degenerativo de células sensoriais do ouvido interno e fibras nervosas que conectam com o cérebro.
  • * Surdez congênita. Quando uma criança nasce surda a causa pode ser hereditária (genética) ou embrionária (intra-uterina). Entre as causas intra-uterinas mais freqüentes estão a rubéola, sífilis, toxoplasmose, herpes, alguns tipos de vírus e certos medicamentos usados na gestante.
  • * Variação de pressão no líquido do ouvido interno pode ocasionar perda gradativa da audição; esta alteração é chamada doença de Menière e vem acompanhada, em sua forma clássica, de vertigem e zumbido.
  • * Tumores benignos e malignos que atingem o ouvido interno ou a área entre o ouvido interno e o cérebro podem causar surdez, como por exemplo, o neurinoma, colesteatoma,glómus, carcinoma.

A surdez é mista quando ambos mecanismos (condução e percepção) estão alterados.
 

Como o médico faz o diagnóstico?
 

O tipo de surdez e o diagnóstico é feito através da história do paciente, exame do ouvido e testes com instrumental especializado. O exame complementar mais importante e indispensável é a audiometria.
 

Muitas vezes a surdez vem acompanhada de tontura e zumbido. Nestes casos, investiga-se também o labirinto (a parte do equilíbrio) e o sistema nervoso relacionado com as queixas.

O exame por imagem como a ressonância magnética (RM) pode ser necessária quando há suspeita de tumor.
 

Como é o tratamento?
 

O tratamento da surdez depende da causa. Alguns exemplos de surdez e respectivos tratamentos:

  • – Se a perda auditiva for devido a um acúmulo de cera no canal do ouvido, o médico simplesmente fará a remoção com o instrumental do consultório.
  • – Nas perfurações timpânicas e nas lesões ou fixação dos ossículos (martelo, bigorna, estribo), o tratamento é cirúrgico.
  • – Nos casos de secreção acumulada atrás do tímpano (otite secretora) por mais de 90 dias, a cirurgia também está indicada.
  • – Na doença de Menière (surdez, tontura, zumbido), o tratamento é clínico e, às vezes, cirúrgico.
  • – Em casos de tumores, o tratamento indicado pode ser essencialmente cirúrgico, radioterápico ou radio cirúrgico.

 

Aparelhos auditivos
 

A grande maioria dos pacientes com surdez se beneficia com o uso dos aparelhos auditivos convencionais, cuja função é amplificar os sons. Para outros que não podem usar os aparelhos auditivos convencionais, ou que se beneficiam pouco com eles, estão indicados os aparelhos eletrônicos cirurgicamente implantáveis.

Para pacientes com surdez severa-profunda, que não se beneficiam com nenhum desses aparelhos, está indicado o implante coclear. Os implantes cocleares são sistemas eletrônicos implantados cirurgicamente, que têm a função de transmitir estímulos elétricos ao cérebro através do nervo auditivo. No cérebro, esses estímulos elétricos são interpretados como sons.
 

Como se previne?
 

Na metade do último século, houve um grande avanço na otologia e na prevenção da surdez. Infelizmente, este avanço não é universal. Pelo menos, um terço da população mundial não é beneficiada por causa da extrema pobreza em que vive.
 

A prevenção nas pessoas expostas a ruídos intensos, em geral os trabalhadores da indústria pesada, se faz atuando-se sobre a fonte emissora, ou protegendo-se cada trabalhador com o uso de protetores-abafadores colocados nos ouvidos.

A prevenção da surdez hereditária é feita através do aconselhamento genético aos pais. Cuidados médicos no período pré-natal previnem surdez na criança que vai nascer. Doenças como a rubéola, sífilis e toxoplasmose na gestante são exemplos de doenças que podem causar surdez e outras anomalias. Toda mulher, especialmente dos 15 aos 35 anos, deve vacinar-se contra a rubéola. A vacinação é simples e altamente eficaz. Cuidado deve haver também com remédios tóxicos ao ouvido da criança e que são administrados na gestante.

Após o nascimento, a audição da criança pode ficar comprometida por certas doenças infecciosas como meningite, caxumba ou sarampo, contra as quais existe vacinação eficaz. Cuidado novamente com alguns remédios, especialmente certos antibióticos que podem lesar o ouvido da criança.
Com os progressos da ciência e tecnologia o diagnóstico de surdez numa criança pode ser feito desde o nascimento. Se há suspeita, a consulta médica deve ser imediata.
O tratamento da criança surda deve ser iniciado cedo, já nos primeiros meses. Quanto antes for iniciado o trabalho de habilitação na criança surda, melhor será o aproveitamento na aquisição da linguagem.
 

Como a surdez evolui?
 

A evolução da surdez depende do tipo (condução ou percepção) e da causa. Casos existem em que a audição é totalmente recuperada com medicamentos, cirurgias ou aparelhos auditivos. Exemplos: otites, perfurações do tímpano, fixação dos ossículos. Se houver uma perda auditiva devido à exposição a ruídos acima do limite tolerável (80 decibéis), a audição pode retornar ao normal em 24 horas. Entretanto, se essa exposição for repetitiva, a lesão causada no ouvido interno poderá ser definitiva e a surdez, irreversível. Nas crianças com otite média e perdas auditivas, a audição tende a normalizar com tratamento adequado. Na presbiacusia (surdez do idoso) e na perda auditiva por certos medicamentos de uso contínuo, a surdez tende a aumentar gradativamente.
 
 

Perguntas que você pode fazer ao seu médico

     

  • – Por que estou com surdez?
  • – Qual é a causa da minha surdez?
  • – O que fazer para melhorar minha audição?
  • – O que devo fazer para evitar que minha audição não piore?

 

Referências bibliográficas

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2. Albernaz PLM. Tratamento das Perdas Auditivas- Presente e Futuro. In: Lavinsky L (ed) Tratamento em Otologia. Rio de Janeiro: Revinter,2006;341.

3. Saunders JE. Global Strategies for Hearing Loss. Prevention: an introduction. ENT and Audiology News 2009; Vol 18 Nº 5: 44-45.

4. Wheeler J. The End of All Hearing Loss is in Reach. Editorial. American Journal of Otology, 1998; Vol 19 Nº1.