O Fim da Surdez ao Nosso Alcance

O FIM DA SURDEZ AO NOSSO ALCANCE

Parece ousadia ou sonho afirmar que o fim da surdez está ao nosso alcance. Entretanto, os progressos científicos, a tecnologia avançada, os profissionais capacitados, a educação da sociedade e uma assistência governamental efetiva tornam possível o fim da surdez.

Medidas preventivas contra a surdez devem contar com a participação de diversos segmentos da sociedade. Essas medidas iniciam já no período de gestação. O casal deve procurar aconselhamento genético, lembrando que um dos fatores de risco é a consangüinidade entre os pais. A gestante deve ser orientada quanto à nutrição e receber tratamento médico de eventuais doenças, a fim de evitar causas de surdez na gestação, parto e período neonatal. Um nascimento prematuro e o baixo peso da criança podem estar associados com surdez.

A sífilis, a toxoplasmose, quando ocorrem na gestante, são exemplos de doenças que podem causar surdez e outras anomalias na criança que vai nascer. A rubéola numa gestante pode causar surdez na criança. A vacinação é simples e altamente eficaz. Certos remédios podem ser prejudiciais. A gestante deve ser informada pelo seu médico sobre os riscos de certos medicamentos.

Aproximadamente uma em cada mil crianças nasce com surdez profunda. Muitas outras nascem com um grau menor de surdez e outras mais a adquirem após o nascimento. A diminuição da audição na criança, principalmente nos primeiros anos de vida, interfere no desenvolvimento das habilidades da fala e da linguagem.

Efeitos adversos também costumam ocorrer no desenvolvimento social, emocional, cognitivo e no relacionamento familiar. Portanto, a surdez deve ser detectada o mais cedo possível, a fim de que sejam tomadas, em tempo hábil, as medidas adequadas para o desenvolvimento da criança, e com isto minimizar ou prevenir efeitos adversos.

Existem métodos técnico-científicos efetivos para detectar perdas auditivas desde o nascimento. Existe um consenso que todo recém-nascido passe pela triagem auditiva neonatal na unidade materno-infantil, com atenção especial às crianças admitidas na Unidade de Tratamento Intensivo, as que nascem com anomalias crânio-faciais, história familiar de surdez e diagnóstico de infecção intra-uterina. A triagem auditiva neonatal é consenso universal e, portanto, deveria ser implantada em todos os hospitais.

Após o nascimento, a criança pode ficar surda se tiver, por exemplo, meningite, caxumba, sarampo ou pelo uso de remédios tóxicos para o ouvido. Existem vacinas muito eficazes para essas doenças. A vacina contra a caxumba deve ser feita também em adultos. Os remédios oto-tóxicos devem ser bem conhecidos pelos pediatras.

Crianças maiores e adultos devem proteger seus ouvidos criando hábitos de evitar lugares muito barulhentos – acima de 90 decibéis – ou protegendo-se, usando protetores (tampões) de ouvido. Sons acima de 90 decibéis podem lesar as 30 a 40 mil células ciliadas existentes em cada ouvido. Quando o barulho é súbito e intenso (ex.: estouro de fogos) o dano auditivo é imediato. É o trauma sonoro. Quando a exposição ao barulho intenso é periódica, as células do nosso ouvido vão sendo danificadas gradativamente.

Inicialmente não percebemos, mas, como mais células vão sendo lesadas por novas exposições, chega o momento em que nos damos conta que estamos ouvindo menos, muitas vezes acompanhado de um zumbido. Os lugares públicos barulhentos, principalmente em recintos fechados, carecem de fiscalização. Nos locais de trabalho onde o ruído é intenso, especialmente na indústria pesada, os trabalhadores devem usar protetores individuais, e serem submetidos a testes de audição periodicamente.

Um grande número de deficientes auditivos, que poderiam ter sua audição corrigida com aparelhos de audição, não os estão usando por duas razões principais: preconceito e falta de recursos. É freqüente observar uma pessoa idosa portadora de uma deficiência auditiva se afastar do convívio de seus familiares, relutante em usar um aparelho de audição. É um preconceito que precisa ser desmistificado.

Não há demérito nenhum em usar um aparelho auditivo, que hoje disponibiliza tecnologia digital, são miniaturizados (quase imperceptíveis), e não ofendem a vaidade de quem os usa. A melhora da audição vai contribuir no restabelecimento da auto-estima e na qualidade de vida.

Para os pacientes que não podem usar os aparelhos auditivos convencionais, ou que se beneficiam pouco com eles, estão indicados os aparelhos eletrônicos cirurgicamente implantáveis. Para os portadores de surdez severa-profunda, que não se beneficiam com nenhum desses aparelhos, estão indicados os implantes cocleares, sistemas eletrônicos que transmitem estímulos elétricos ao cérebro, onde são interpretados como sinais

São aparelhos de tecnologia avançada, de custo elevado, difíceis de serem adquiridos por muitos pacientes. Infelizmente, os seguros-saúde não costumam cobrir gastos com próteses e a assistência prestada pelos órgãos governamentais é precária.

As pesquisas avançadas em medicina, genética e bioengenharia estão iniciando um novo ramo na área biomédica: a medicina regenerativa. É a utilização da terapêutica celular na cura de doenças e restauração de funções. As chamadas células-tronco, definidas como sendo células com capacidade de gerar clones e com potencial para se diferenciarem em inúmeras linhagens de células, têm causado euforia à comunidade médico-científica.

Existem, portanto, várias medidas ao nosso alcance para impedir que as pessoas fiquem surdas, ou permitir que surdos voltem a ouvir, desde que todos os envolvidos (profissionais, sociedade, instituições) cumpram plenamente suas funções.

Perguntas que você pode fazer ao seu médico:

Como devo tomar medidas preventivas contra a surdez?

A surdez tem cura?

Os aparelhos de audição ajudam a ouvir melhor em todos os casos de surdez?

Referências Bibliográficas

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  • – Wheeler J. the End of All Hearing Loss is in Reach. Editorial. American Journal of Otology, 1998; Vol. 19 Nº 1