Sexualidade e Peso

SEXUALIDADE E PESO



SEXUALIDADE E PESO


A forma corporal ainda é vista como um passaporte para o exercício da sexualidade. Só estão aptos aqueles que têm no corpo a expressão da saúde, ou seja, os que são magros.

Desde o início do século passado quando a indústria começou a estabelecer parâmetros de magreza, normalidade e sobrepeso, quem estivesse fora das categorias respeitáveis, estaria sujeito a toda sorte de doenças, transformando-se em um símbolo visual abominável.

Teorias foram surgindo para dar conta de tal angústia e a de Freud contribuiu nesse entendimento, onde pessoas obesas tinham perturbações durante a fase oral. Afirmou-se que seriam incapazes de saber a diferença entre fome e saciedade ou entre a vontade de comer e outras emoções representativas.

Hoje foi lançado um corpo certo, escravo da indústria da moda e de dietas: um modelo ideal de formatação, o valor do indivíduo. A roupa de grife deveria ser mais do que vestida, deveria ser o corpo, adequado ao local e à época. Assim, começou uma rejeição pelos obesos, especialmente as mulheres, que deveriam ter o total controle sobre seus corpos e vontades. São elas que mais se envergonham, sentindo-se pouco à vontade em sua intimidade. Os homens não sofrem tanto com a rejeição corporal, absolvidos por uma posição sócio econômica compensatória, por exemplo.

O medo mórbido de engordar surge pelo aprendizado de que o corpo é desagradável podendo se transformar em inimigo fora de controle. E essa relação é um reflexo da própria vida, visto que o corpo passa a ser encarado como um espelho da impotência, da culpa e da rejeição, onde o vazio interior, muitas vezes passa a ser preenchido com a comida, numa tentativa de ocultar questões que, não resolvidas, vão piorando cada vez mais. Comportamentos compensatórios começam a surgir como isolamento, evitação de praias e piscinas, ou seja, atitudes que falam de um medo de ser (mal) visto e não amado.

Hoje já se sabe que o alimento é condutor de sentimentos capaz de tornar-se problemático quando supre afetos, medos e rejeições. Assim a obesidade é uma expressão dinâmica, resultado da combinação de fatores familiares, sociais, culturais, metabólicos, alimentares e genéticos. O resultado disso, o corpo e a forma de percebê-lo, compromete a autoconfiança e a autoestima. Por mais que pesquisas já tenham apontado para o fato de que não existe distinção expressiva em relação à frequência sexual, ou o desejo entre mulheres com peso considerado normal, e aquelas que estão acima do peso, as últimas ainda se sentem inseguras em seu envolvimento com o parceiro e muitas sofrem pelo temor da não aceitação ao se sentirem impróprias aos padrões sociais ditados.

Estudos já puderam comprovar que as mulheres com sobrepeso ou obesas são tão sexualmente ativas, ou até mais, em relação às outras. Mas o estereótipo de que é preciso ser magra para se ter sexo ainda é comercializado. Para algumas, o desejo sexual está intimamente atrelado às formas corporais: emagrecendo, o desejo aumenta, engordando ele diminui. Mas não existe uma correlação com o índice de IMC e a insatisfação sexual.

De qualquer forma, caso não se sinta confortável com o próprio corpo, alguns subterfúgios podem ser criados para que fique mais fácil entrar no clima na hora da relação sexual. Se permita ficar com uma blusa transparente ou à meia luz, por exemplo. Experimente o que essas sensações podem trazer e seja capaz de desfrutar tal momento.

Perceber o corpo é resumir várias experiências acumuladas durante a vida. A imagem corporal é um retrato interno feito da soma das atitudes e sentimentos em relação a própria aparência. Não é uma questão isolada, mas faz parte de um contexto que tem a ver com o estilo de vida e autoestima. Assim, a sexualidade é mais do que a forma como olhamos para ela, é a forma como olhamos para nós. Por isso, a satisfação não se encontra no corpo de cada um e sim na possibilidade de se permitir o encontro com o prazer.