Traumatismos da Mão

TRAUMATISMOS DA MÃO

A mão do homem é dotada de mecanismos extremamente especializados que permitem atividades únicas na escala zoológica. Constantemente em ação, este órgão é utilizado para pegar, pinçar, apertar, esmagar, alimentar e afagar. Por estar sempre em atividade, e como é o precursor do restante do corpo em contacto com o meio externo, pode estar sujeito a uma serie de traumatismos.

As estatísticas mostram que é a porção do organismo humano mais freqüentemente traumatizada (lesada, acidentada). Os ferimentos que acometem esta parte do nosso corpo podem ter natureza variada: cortes, esmagamentos, amputações, queimaduras, abrasões, são os mais freqüentes, e cada um deles pode ser mais ou menos grave.

Para nós cirurgiões que atendemos estas emergências, a rotina do atendimento da situação de urgência está bem estabelecida. Entretanto como a maioria destes ferimentos ocorre em casa ou no trabalho, é importante que se tenha claro um conjunto de medidas simples e imediatas que permitam o manejo da urgência não hospitalar (domiciliar ou profissional) destas graves situações.

Os ferimentos de mão apresentam, na grande maioria das vezes, um ou mais dos seguintes elementos:

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Cortes ou lacerações
Sangramento (hemorragia)
Dor

Cortes ou lacerações

Pequenos ou grandes, os cortes e lacerações são as mais freqüentes lesões entre os ferimentos da mão. A pele constitui uma barreira protetora que impermeabiliza os elementos profundamente situados (músculos, ossos, outros órgãos) do meio externo. Sendo a estrutura mais periférica é a primeira a sofrer as agressões. Dependendo da intensidade do agente agressor além da pele também podem ser rompidos: os tendões, os músculos, e até os ossos.

Nas situações emergenciais, além do controle do sangramento (avaliado a seguir) o manejo inicial (domiciliar ou profissional) dos cortes e lacerações pode ser realizado no local do acidente de maneira simples. Se existirem fraturas, as manobras a seguir descritas devem ser realizadas com muito cuidado para não desencadear dor ou não piorar o prognóstico. Se houver uma quantidade muito grande de detritos misturados ao membro traumatizado, ou se houve explosão e as roupas e restos dos foguetes, como pedaços de papelão e cinzas, estiverem aderidos à mão lesada, um jato de água morna, prolongado, e muito fraco na superfície acidentada pode rapidamente limpar e remover agentes agressores. Muitas vezes estes agentes, como a pólvora, continuam mantendo a destruição dos tecidos.

Esta simples limpeza pode melhorar o prognóstico da lesão traumática. Imediatamente após o membro lesado deve ser envolto (não enrolado. simplesmente envolto) em um pano muito limpo e mantido imobilizado.

Sangramento

Os ferimentos da mão, assim como em outros diferentes locais do corpo, desencadeiam sangramento porque rompem os vasos sanguíneos. O sangue corre dentro de um sistema fechado, constituído pelos vasos sanguíneos. O sangue sai do coração, entra pelas artérias, passa através dos capilares e volta ao coração pelas veias. É um sistema totalmente fechado. O trauma rompe um dos elementos deste sistema, e o sangue é então derramado para o exterior, desencadeando a hemorragia.

Nessas situações de hemorragia, a primeira medida de tratamento a ser estabelecida é a hemostasia. Este termo quer dizer: estancar a hemorragia. A maneira mais simples de se estancar uma hemorragia é com uma leve compressão na zona sangrante. Quando ocorre uma hemorragia muito volumosa, a utilização de um lenço (bem um limpo) ou de um guardanapo (também bastante limpo), pode permitir uma compressão uniforme, não exagerada, que interrompa o fluxo do sangramento.

A experiência tem mostrado que nessas situações de trauma com sangramento mais ou menos profuso, a ansiedade desencadeada pelo inesperado, no paciente e nos circunjacentes, impede o bom senso do procedimento de hemostasia. Só este início de tratamento com uma compressão leve, e repete-se leve (quero dizer uma compressão que não é forte), na grande maioria das vezes, já modifica todo o prognóstico (evolução) do processo. À medida que é feita a compressão, pode ser observada a pressão necessária para estancar a perda de sangue. Esta é a pressão suficiente.

É claro que a hemostasia definitiva será realizada durante o atendimento médico, ou com coagulação dos vasos sangüíneos ou ligadura (atadura) dos mesmos. Chama a atenção dos especialistas a quase constante falta de uma conduta mais arrojada, de uma compressão leve do ferimento nas emergências domiciliares. Às vezes um paciente com um ferimento sangrante é conduzido de maneira atabalhoada ao serviço de Pronto Atendimento, com uma hemorragia abundante, que poderia com compressão leve, evitar uma série de complicações posteriores, às vezes extremamente graves, como anemias agudas e até morte. Antigamente eram usados garrotes na raiz dos membros para estancar o sangramento. Hoje não são mais utilizados, estes procedimentos. O garroteamento pode perfeitamente ser substituído por compressões hemostáticas nas zonas sangrantes.

Dor

A dor é um fator constante em zona de trauma. Depois do estupor inicial causado pelo corte ou pela explosão, a dor aumenta gradativamente. É necessária a utilização de analgésicos fortes imediatamente após o acidente. A aspirina (AAS, Melhoral, Bayaspirina, e outros) apesar de um excelente analgésico, NÃO deve ser usada, nessas condições de acidente. Com inúmeras indicações de uso, e excelente em outras infinidades de situações médicas, este produto causa uma diminuição no início do processo de coagulação do sangue (diminui a adesividade das plaquetas ), podendo causar um aumento do sangramento, inadequado nesta situação analisada.

A analgesia (tratamento contra a dor) ou anestesia serão realizados durante o atendimento médico. Como na maioria das vezes ocorrerá um certo tempo até o paciente chegar ao local de atendimento, esta analgesia inicial poderá auxiliar no alívio da sensação dolorosa, às vezes muito intensa.

O cuidado com o paciente traumatizado de uma maneira global, com tranquilização emocional, posicionamento confortável, e agilidade no transporte até o setor de atendimento médico emergencial são elementos da maior importância.

O atendimento correto inicial, domiciliar ou profissional, pode interferir de maneira importante no desencadeamento futuro do prognóstico da lesão da mão.

Revisado por Dr. Eduardo Chem