Endodontia (Tratamento de Canal) de Dentes Jovens

Endodontia (Tratamento de canal) de dentes jovens

Basicamente, o dente divide-se em duas partes: parte coronária, onde se aloja a polpa coronária e parte radicular, onde se aloja a polpa radicular (Figura 1).

Apesar da polpa (popularmente chamada de nervo) ser didaticamente dividida, na verdade ela é um tecido conjuntivo único e sua condição de saúde pode alterar-se devido a inúmeros fatores (Ex: cárie), sofrendo um processo de inflamação e ou mesmo infecção.
Quando se fala de dentes permanentes, estes processos relatados podem acontecer em dentes jovens (crianças e adolescentes) e dentes adultos.

A causa mais comum que envolve os dentes jovens, sem dúvida nenhuma, é o trauma, sendo a avulsão dental (quando o dente sai da boca) considerada a mais perigosa para a criança e ou adolescente (Figura 2). Nestes casos, muitos fatores influenciam a permanência do dente e, entre eles, os mais importantes são:

Tempo que o dente ficou fora da boca: recomenda-se que este tempo não seja superior a 30 minutos;
Meio de transporte do dente, sendo o leite, água, saliva e soro os mais recomendados no Brasil. O dente jamais deve ser transportado a seco e ou ser tocado na raiz.
Um atendimento de urgência e imediato está diretamente ligado a permanência do dente na boca.

Seja qual for o trauma envolvido, o tratamento sequencial que é feito no consultório do dentista é imprescindível, pois sequelas podem aparecer com o passar do tempo (ex: reabsorções, quando o dente vai amolecendo). Na maioria das vezes, este tratamento é multidisciplinar, ou seja, requer a atuação de várias especialidades da Odontologia e, dentre elas, destacam-se a Endodontia, Periodontia (gengiva), Prótese, Dentística (restaurações), Cirurgia e Ortodontia (aparelhos).

Normalmente, a primeira etapa do tratamento sequencial de traumas é a Endodontia. O tratamento de canal convencional visa a remoção (limpeza) do conteúdo total do canal do dente, seja de uma polpa inflamada (neste caso chamado de dente vivo) ou de uma polpa infeccionada (dente morto) e o seu posterior fechamento, seguido pela restauração da parte coronária do dente. Esta mesma sequencia é obedecida quando o tratamento de canal de dentes jovens é executado; entretanto, existem algumas diferenças na conduta, pois dentes jovens nascem com formação radicular incompleta, ou seja, o canal radicular é extremamente amplo e a ponta da raiz é aberta (Figura 3).

Normalmente, os primeiros permanentes a nascerem surgem por volta dos 5 a 6 anos e os últimos por volta dos 12 a 14 anos, com exceção dos terceiros molares (sisos). Após o nascimento, a raiz completa naturalmente sua formação em 2 a 3 anos, exceto quando a polpa sofre qualquer tipo de dano e, nestes casos, o tratamento de canal é então indicado.

A forma diferente de se tratar o canal de dentes jovens baseia-se na falta de um limite para a limpeza e fechamento do canal, uma vez que a ponta da raiz é aberta. Este é o real motivo pelo qual, um tratamento de canal em dentes jovens normalmente demora uma média de 6 meses, pois um medicamento (Hidróxido de cálcio) deve ser trocado com relativa frequência, para induzir a formação do fechamento radicular, em especial da ponta, para que não aconteça extravasamento do material obturador (quando passa material da ponta da raiz e invade o osso).

Com o avanço dos materiais utilizados na odontologia, houve uma evolução neste tipo de tratamento, pois um novo material (MTA) foi introduzido no início desta década, diminuindo o tempo de tratamento dos dentes jovens para uma ou duas sessões, com intervalo entre as consultas não maior do que 15 dias. Este material tem como única desvantagem o seu custo, que é bem maior do que a terapia com o medicamento convencional.

O tempo de vida de um dente jovem com tratamento de canal (Figura 4) normalmente é longo, e depende das funções desenvolvidas pelo dente em questão, assim como outros problemas associados ou não, mas as recomendações são as mesmas para qualquer tipo de tratamento de canal realizado (Figura 5), ou seja, restaurar o dente de forma adequada.

Divisões coroa e raiz e localização da polpa coronária e radicular.

Figura 1- Divisões coroa e raiz e localização da polpa coronária e radicular.

Alvéolo (Local do dente no osso) sem o dente

Figura 2- a) Alvéolo (Local do dente no osso) sem o dente e b) Dente reimplantado (colocado de volta no seu lugar).

Cortesia: Ferreira et al. Dental avulsion, from dental replantation to dental implant: a case report with a 20-year follow-up. RBTD, v1, n1, 13- 9.

pontas das raízes abertas de dentes jovens.

Figura 3- pontas das raízes abertas de dentes jovens.

Tratamento de canal de dentes jovens.

Figura 4- Tratamento de canal de dentes jovens.

Tratamento de canal de dente adulto.

Figura 5- Tratamento de canal de dente adulto.